Previdência privada ganha espaço no agro como aliada da sucessão e do crédito
A sucessão familiar continua sendo um dos maiores desafios enfrentados no campo. Com a crescente profissionalização da gestão rural, produtores têm buscado alternativas para garantir que a transferência de bens e recursos para a próxima geração ocorra de forma mais simples, econômica e segura. Nesse cenário, a previdência privada, tradicionalmente associada a planos de aposentadoria, tem surgido como aliada desse planejamento.
Um dos atrativos que têm chamado atenção na hora da sucessão no campo é a recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que vedou a cobrança do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) sobre valores recebidos por herdeiros de planos de previdência privada.
Alessandro Souza, superintendente comercial da BrasilPrev, explica que a medida pode reduzir significativamente os custos da sucessão. “Com a decisão do STF, a previdência privada não entra em inventário e tem menor carga tributária, sendo mais ágil o processo também. Com isso, a previdência passou a ser também um instrumento eficiente para planejamento sucessório”, destaca o executivo.
No entanto, ele destaca que a relevância da previdência privada é percebida de diferentes formas, dependendo do perfil do produtor. O grande produtor, que tem mais capital e investe em múltiplos ativos, pode destinar uma parte à previdência para evitar que, em caso de falecimento, a família fique à mercê de processos judiciais demorados. Já o pequeno e médio produtor, ainda em fase de ampliação patrimonial, encontra na previdência uma maneira de começar a formar uma reserva e proteger a família em situações imprevistas.
Além dos mais, segundo o especialista, como nem sempre os filhos seguem no agro, muitos produtores já sabem que a atividade vai se encerrar com eles. Nesse cenário, a previdência privada permite que o produtor comece a se preparar para esse período de transição, transformando a reserva acumulada ao longo dos anos em uma espécie de aposentadoria. “Ele pode chegar aos 70 anos e perceber que não consegue mais manter o mesmo ritmo. A previdência garante uma renda nesse pós atividade”, afirma Alessandro.
Mulheres no centro da decisão
Embora em torno de 80% dos clientes agro da Brasilprev ainda sejam homens, são as mulheres que mais demonstram interesse em discutir previdência — especialmente no aspecto da renda futura. De acordo com Alessandro, isso ocorre porque elas têm uma preocupação mais forte com proteção, formação dos filhos e segurança da família. “Isso se reflete nas conversas”, afirma.
Ele destaca ainda que muitas mulheres procuram planos não apenas para planejar a sucessão, mas para garantir uma aposentadoria ou renda fixa no futuro, especialmente em casos de perda do cônjuge. “A gente percebe que, para além da gestão da terra, a mulher está ocupando um papel cada vez mais estratégico na proteção e continuidade do negócio rural”, ressalta.
Uso como garantia de crédito
Além de funcionar como ferramenta de planejamento sucessório e aposentadoria, a previdência privada também tem se consolidado como uma forma estratégica de acesso ao crédito rural. Em um cenário em que o financiamento da atividade agropecuária depende cada vez mais da diversificação das fontes de recursos, o uso do saldo previdenciário como garantia tem aparecido como alternativa.
Segundo Alessandro, alguns bancos e instituições financeiras já aceitam a aplicação em previdência como garantia para operações de crédito com taxas de juros mais competitivas. “Isso amplia o leque de possibilidades do produtor, principalmente em momentos de maior necessidade de capital de giro ou investimento”, afirma. Na prática, o valor acumulado em planos de previdência pode ser vinculado ao contrato como forma de mitigação de risco para o financiador, sem que o recurso precise ser resgatado.
De acordo com o especialista, essa modalidade é especialmente interessante para produtores que desejam manter sua reserva previdenciária intacta, mas precisam de crédito em condições mais vantajosas. “É um modelo que protege o patrimônio do produtor e, ao mesmo tempo, o ajuda a acessar recursos com mais facilidade e menor custo”, complementa Souza.