Na 30ª edição da maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, a Agrishow, o gigantismo das máquinas e as inovações tecnológicas dividiram espaço com trajetórias distintas, mas com uma essência em comum: a força da agricultura familiar, aliando inovação, sustentabilidade e identidade local.
No Pavilhão da Agricultura Familiar, que gerou R$ 2,5 milhões em faturamento neste ano, segundo levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), a história de Genivaldo Pimenta dos Santos, produtor de queijos de cabra, foi um dos destaques.
Após anos trabalhando na indústria, ele encontrou no campo uma nova vocação — motivada por uma necessidade da própria família. “Desde que a Marina, uma das filhas, era pequena, a gente visitava propriedades rurais em busca de uma solução para o que vivíamos na época”, contou ao Agro Estadão. “Procurávamos leite de cabra para consumo próprio e, nessas visitas, já imaginávamos que talvez, um dia, iríamos para o campo”, complementou.
Há sete anos, o desejo de anos atrás se tornou realidade. A família produz queijos artesanais com leite de cabra no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (SP). A rotina é tocada pela família: Genivaldo e a esposa, Daniele, cuidam da produção e organização, e as filhas, Marina e Helena, atuam na divulgação nas redes sociais.
“A gente coloca os vídeos, tudo no nosso Instagram, que é @cabanhacampestre53, onde vão todas as novidades das receitas”, explica Marina, que estava ajudando o pai no estande da Agrishow. “Eu dou algumas dicas para o meu pai na gravação dos vídeos para chamar mais a atenção do pessoal, e também valorizar o nosso produto da melhor forma”, disse.
Atualmente, os queijos da família são vendidos em feiras em Campinas e também na propriedade, que recebe visitas e atividades educativas com escolas. A iniciativa faz parte da Rota Turística do Queijo, promovida pela Secretaria de Turismo de São Paulo, que também viabilizou a participação da família na Agrishow, juntamente com a SAA. “Se nós tivéssemos que pagar, por exemplo, um estande como esse, ficaria praticamente inviável, pelo volume que a gente comercializa. Mas, sem dúvida nenhuma, essas iniciativas nos ajudam muito”, destacou Genivaldo.
O produtor ainda concilia o trabalho na indústria com a produção de queijos, no que para ele é um “processo de transição”. Porém, ele almeja, no futuro, viver totalmente dedicado ao que produz no campo. “Depender exclusivamente do campo é algo que é viável, é factível, é possível. Então, a gente espera que isso aconteça”, declarou.
Expandindo fronteiras da própolis vermelha
Em outro ponto da Agrishow, no estande do Sistema FAESP/Senar-SP, a bióloga Juliana Cecchetto apresentou a Rubee Apis, marca de própolis vermelha e verde, criada durante a pandemia.
A Rubee Apis busca fornecer ao mercado brasileiro um produto com qualidade para exportação – Foto: Sabrina Nascimento
Filha de apicultor, Juliana passou dois anos e meio no litoral de Alagoas capacitando apicultores e estruturando uma cadeia produtiva baseada em rastreabilidade, sustentabilidade e impacto social. Ao Agro Estadão, ela contou que não trabalha com apicultores extrativistas. “A gente cuida de todo o entorno das colmeias, do bem-estar das abelhas e da vegetação nativa. É uma produção comprometida com quem está na ponta”, explica a bióloga e diretora de qualidade da Rubee Apis. Atualmente, a companhia mantém parcerias fixas com cerca de dez apicultores, todos de Alagoas, garantindo compras mensais e estabilidade financeira aos produtores familiares.
O diferencial da Rubee Apis é a comercialização de própolis vermelha. Única no Brasil, com identificação geográfica no Nordeste, ela se destaca entre os tipos existentes — como a verde — por sua maior complexidade e potencial farmacológico. Ambas as própolis têm ação antimicrobiana, anti-inflamatória e antioxidante, mas a vermelha, extraída da planta rabo-de-bugio, possui cerca de 300 compostos bioativos.
Ela ainda pouco valorizada no mercado interno. Cecchetto explica que a própolis vermelha é, em boa parte, exportada. Mas a Rubee Apis está tentando reverter esse quadro ao oferecer um produto tipo exportação ao consumidor brasileiro. “Desde o começo [das produções], estamos trazendo para as regiões Sudeste e Sul porque a gente quer que o brasileiro também tenha esse produto como benefício”, afirmou.
A missão, segundo Juliana, é conscientizar o consumidor sobre o uso contínuo da própolis como modulador do organismo, e não apenas como remédio pontual. “Própolis não é só para dor de garganta, é algo para a vida toda”, reforça a fundadora.
Além disso, a empresa investe em inovação. Com apoio do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a bióloga iniciou uma pesquisa para aproveitar os resíduos da maceração da própolis como insumo para diferentes indústrias — de alimentos a cosméticos —, visando extrair o máximo dos compostos bioativos. A primeira fase do estudo termina em novembro deste ano, e os próximos passos incluem padronização, testes de estabilidade e aplicações setoriais.