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Homo sapiens ‘treinou’ capacidades de colonizador antes de se tornar espécie global

21/06/20254 Mins Read
Homo sapiens 'treinou' capacidades de colonizador antes de se tornar espécie global
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REINALDO JOSÉ LOPES
SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Antes de se tornar uma espécie global, presente desde o Ártico até a Amazônia, o Homo sapiens “treinou” as capacidades de colonizador se espalhando por ambientes mais desafiadores dentro da África, seu continente de origem. A ideia, defendida num estudo publicado na última quarta-feira (18), pode ajudar a explicar por que a expansão dos seres humanos modernos pelo globo aconteceu relativamente tarde.

Explica-se: embora a gênese africana do H. sapiens tenha ocorrido entre 300 mil anos e 200 mil anos atrás, membros da espécie não parecem ter saído significativamente de sua terra natal durante muito tempo.

Há alguns sinais precoces da presença de seres humanos de anatomia moderna em áreas como o Oriente Médio, mas esses pioneiros, ao que tudo indica, não conseguiram se estabelecer por ali em definitivo, e boa parte da Eurásia continuou sob o domínio de outras espécies humanas, como os neandertais e os denisovanos.

A situação só teria mudado de vez um pouco antes de 50 mil anos atrás, com o rápido avanço de grupos de H. sapiens por todo o Velho Mundo, a chegada de alguns deles à Austrália e, por fim, a colonização das Américas, que pode ter começado um pouco antes de 20 mil anos atrás. Dados de DNA indicam que todos os seres humanos vivos hoje descendem, em larguíssima medida, dos indivíduos que participaram dessa expansão tardia.

Na nova pesquisa, que saiu na revista especializada Nature, uma equipe liderada por Emily Hallett, do Departamento de Antropologia da Universidade Loyola de Chicago (EUA), usou o mapeamento de sítios arqueológicos africanos, bem como modelos que simulam os ambientes e o clima do passado do continente, para verificar o que teria acontecido com a população humana antes e depois do grande salto colonizador.

Em essência, o que Hallett e seus colegas tentaram estimar foi a mudança nos nichos ecológicos habitados pelo H. sapiens -ou seja, os tipos de ambientes aos quais a espécie era capaz de se adaptar dentro da África. Sabe-se, por exemplo, que as espécies mais antigas de hominínios (categoria que inclui tanto as pessoas de hoje quanto seus ancestrais e parentes mais próximos) tinham certa preferência por ambientes de savana, com vegetação aberta e relativa abundância de herbívoros de grande porte que podiam ser caçados.

No entanto, as simulações feitas pelos autores da nova pesquisa mostram que, a partir de 70 mil anos atrás, há o crescimento da presença de sítios arqueológicos ocupados pela nossa espécie em ambientes diversificados, principalmente florestas e desertos, em territórios da África do Norte, África Central e África Ocidental. O processo de ampliação do uso de diferentes ambientes continua crescendo no continente ao longo do tempo, até atingir um pico por volta de 30 mil anos antes do presente.

Essa diversificação regional da presença do H. sapiens é importante porque, durante milhões de anos, havia uma presença mais clara de hominínios em outras áreas do continente, em especial a África Oriental e a África do Sul.

Além disso, no caso das áreas desérticas, os dados sugerem também que a ocupação delas começa em momentos de condições climáticas mais favoráveis (menos secas), mas não desaparece quando o clima volta a piorar. Isso sugere que houve um aumento da resiliência das populações humanas a essas condições adversas. Talvez não por acaso, as áreas desérticas ou semidesérticas africanas são as que predominam na fronteira entre o continente e o Oriente Médio, funcionando como portões para o resto do mundo no caso das populações de hominínios.

Em um comentário sobre o estudo publicado na mesma edição da Nature, William Banks, da Universidade de Bordeaux (França), disse que os métodos usados pela equipe de Chicago eram robustos, mas que era preciso ir além para entender exatamente qual foi a dinâmica da expansão e diversificação de nichos.

“É útil examinar mudanças tecnológicas para adquirir uma compreensão aprofundada dos comportamentos culturais por trás dessa dinâmica de nichos ecológicos ao longo do tempo”, escreve Banks. Ele também aponta que é preciso entender melhor qual é a diferença entre essa expansão tardia e as que aconteceram cerca de 2 milhões de anos antes, quando outros hominínios -provavelmente a espécie Homo erectus- também conseguiram se espalhar pela Ásia e, mais tarde, pela Europa.

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