SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta quarta-feira (18), com os investidores à espera das decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos. No radar, ainda está a nova troca de ataques entre Israel e Irã.
Às 12h, a moeda norte-americana caía 0,24%, cotada a R$ 5,482. Já a Bolsa não tinha alteração e marcava 138.845 pontos.
O BC (Banco Central) brasileiro e o Fed (Federal Reserve, a autoridade monetária dos Estados Unidos) batem o martelo sobre suas taxas de juros nesta tarde, em data apelidada de “superquarta” pelo mercado.
A decisão do Fed será publicada às 15h (horário de Brasília), enquanto a do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC sairá após às 18h.
Por aqui, as expectativas sobre qual será o movimento do comitê estão divididas. Enquanto uma parcela dos economistas aposta na manutenção da Selic no nível atual de 14,75% ao ano, outra ala projeta um aumento adicional de 0,25 ponto percentual, o que elevaria a taxa básica a 15% ao ano -o maior patamar desde julho de 2006.
Nas últimas semanas, houve grande oscilação na precificação extraída da curva de juros. Das 32 instituições consultadas pela Bloomberg, 12 acreditam que a Selic vai subir 0,25 ponto percentual, a 15% ao ano, na reunião desta quarta. As outras 20 -dentre elas Bradesco, XP e Itaú- apostam na manutenção em 14,75%.
Mas, independentemente da decisão, o mercado espera consenso entre os membros do comitê. Essa expectativa remonta ao arranhão reputacional provocado pelo racha dos diretores do colegiado do Banco Central em maio do ano passado.
Na ocasião, o Copom reduziu o ritmo de corte da Selic com oposição de todos os diretores indicados pelo governo Lula (PT), em um placar de 5 votos a 4, colocando a credibilidade e o risco à autonomia da autoridade monetária em debate. Desde então, houve unanimidade entre os membros do Copom em todas as votações.
Já na ponta norte-americana, há pouco espaço para dúvida entre os operadores. Na ferramenta FedWatch, do CME Group, o mercado projeta 99,9% de chance de uma manutenção dos juros na faixa de 4,25% e 4,5%, versus 0,1% de probabilidade de um corte de 0,25 ponto percentual.
O atual patamar foi definido em dezembro do ano passado e, desde então, o Fed tem observado as perspectivas econômicas ficarem nebulosas. A principal fonte de incerteza é o governo do presidente Donald Trump, que voltou ao poder em janeiro e, em abril, instaurou pânico nos mercados ao anunciar uma reformulação na política tarifária dos EUA.
O maior desafio dos diretores do Fed tem sido projetar os rumos da inflação. A guerra comercial global de Trump tende a aumentar os preços ao consumidor como reflexo da alta dos impostos de importação. Mas não está claro se esse impacto será pontual ou duradouro.
No primeiro caso. algumas autoridades do banco central norte-americano sinalizaram que poderiam deixar as tarifas de lado na hora de decidir sobre os juros. O segundo caso, porém, exigiria mais rigidez da política monetária.
O cenário ficou ainda mais incerto na sexta-feira, quando Israel atacou o Irã e matou quase todo o alto escalão dos comandantes militares do país persa e seus principais cientistas nucleares. Israel diz que agora tem o controle do espaço aéreo iraniano e que pretende intensificar a campanha nos próximos dias.
As mortes saltaram de 224 para 269 iranianos, mas a transparência do governo iraniano torna mais difícil aferir a precisão do dano. Do lado israelense, 24 pessoas morreram.
A escalada de tensões inspira temor entre os agentes do mercado. O dólar, em geral, é visto como um ativo seguro diante da cautela global e é para onde os investidores costumam correr quando o cenário está incerto.
“Qualquer notícia nova acaba mexendo com os ativos de risco, o que dá suporte ao dólar como fonte de segurança”, disse João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.
Na terça, Trump disse que o líder do regime iraniano, aiatolá Ali Khamenei, é “um alvo fácil”, mas que os Estados Unidos não irão matá-lo -“ao menos não por enquanto”.
“Sabemos exatamente onde o chamado “Líder Supremo” está se escondendo. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá. Não vamos tirá-lo de lá (matar!), pelo menos não por enquanto”, disse Trump em uma postagem no Truth Social nesta terça. Ele também exigiu que a teocracia persa se renda incondicionalmente.
Na perspectiva de Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, há uma “lambança de sangue” ocorrendo que pode ser duradoura.
“Todos acreditam que um ataque muito mais agressivo possa vir. Uma bomba muito mais catastrófica pode ser enviada nas próximas horas por Israel. Então o mundo está tenso por isso”, disse Correia.
Os mercados estão pessimistas, conforme o confronto entre Irã e Israel ameaça transformar o Oriente Médio, região rica em petróleo, em um ponto crítico. Embora ainda não tenham surgido problemas no fornecimento da commodity, a mera ameaça do conflito deixa os mercados em alerta máximo.
“A questão maior é o que acontecerá no Estreito de Ormuz e, se houver um fechamento, isso terá implicações para os preços do petróleo”, disse Jukka Jarvela, chefe de ações listadas na Mandatum Asset Management.