O mercado físico do boi gordo vive um momento de aparente contradição: mesmo com fundamentos de alta, como escalas de abate encurtadas e exportações firmes, os preços da arroba não reagem com consistência em todas as praças pecuárias. A terça-feira (17/6) foi marcada por queda de preços em estados estratégicos, como São Paulo e Minas Gerais, enquanto outras regiões mantêm viés de valorização. Especialistas apontam que o mercado se encontra em uma encruzilhada, onde variáveis externas positivas colidem com a morosidade no consumo interno.
Preços do boi gordo recuam em SP e MG, mas seguem firmes no Centro-Oeste
Segundo dados da consultoria Safras & Mercado, os frigoríficos conseguiram ampliar suas escalas de abate em algumas regiões, o que contribuiu para a queda da arroba em estados como São Paulo (R$ 321,00) e Minas Gerais (R$ 301,76). Já em Goiás (R$ 305,36), Mato Grosso do Sul (R$ 320,68) e Mato Grosso (R$ 316,55), o mercado ainda aponta para valorização, sustentado por escalas apertadas.
“Já em estados como Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins e Goiás persiste o movimento de alta, ainda com escalas de abate encurtadas”, destaca Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado.
Os números mostram a volatilidade entre as praças, mas também evidenciam uma tentativa de equilíbrio dos frigoríficos, que operam entre a pressão dos custos e a dificuldade de escoamento no mercado interno.
Exportações seguem fortes e alimentam otimismo
Apesar da acomodação dos preços em algumas regiões, o desempenho do Brasil no mercado externo continua sendo um dos pilares de sustentação do setor em 2025. A expectativa é de novo recorde nas exportações de carne bovina, tanto em volume quanto em faturamento.
Esse desempenho mantém o ritmo de embarques elevado e ajuda a aliviar parte da pressão da demanda interna. No entanto, a lentidão nas compras domésticas limita reajustes mais agressivos da arroba, mesmo com a entressafra se aproximando.
Atacado com preços estáveis e menor espaço para reajustes
No mercado atacadista, os preços das principais peças bovinas seguem estáveis, com quarto traseiro a R$ 24,50/kg, dianteiro a R$ 19,50/kg e ponta de agulha a R$ 18,50/kg. A segunda quinzena do mês, historicamente marcada por menor apelo ao consumo, deve manter o ambiente travado.
“Além disso, o mercado segue atento às condições das proteínas concorrentes”, ressalta Iglesias.
Dólar avança e beneficia exportações
O câmbio também segue colaborando para o bom desempenho externo. O dólar comercial fechou o dia em alta de 0,16%, cotado a R$ 5,4962 para venda, o que melhora a competitividade da carne brasileira no exterior.
Arroba parada nas praças: pecuaristas seguram os lotes de boi gordo
A consultoria Agrifatto indica que, apesar das escalas médias de apenas sete dias, a arroba se manteve sem variações nas 17 praças monitoradas. O motivo principal seria o ritmo lento do mercado interno, com distribuidores abastecidos e enfrentando dificuldade para girar o estoque.
Além disso, os pecuaristas mantêm uma postura firme:
“Os produtores continuam segurando as boiadas nas fazendas, à espera de preços mais altos neste início de entressafra de animais de capim”, analisa a Agrifatto.
Em São Paulo, boi comum e boi-China são cotados a R$ 320/@, sem diferenciação. A média nacional da arroba foi mantida em R$ 296,40/@, segundo os dados mais recentes.
Preços no mercado físico (Scot Consultoria – 17/6)
- Boi gordo: R$ 315/@
- Vaca: R$ 287/@
- Novilha: R$ 300/@
- Boi-China: R$ 320/@
(preços brutos e no prazo, na praça paulista)
Mercado futuro recua, mesmo com fundamentos positivos
Na B3, o mercado futuro apresentou leve recuo. O contrato com vencimento em junho/25 caiu 0,30%, fechando em R$ 317,45/@, em movimento contrário ao otimismo gerado pelas exportações e expectativa de firmeza na entressafra.
O mercado do boi gordo vive um momento decisivo. As exportações seguem em ritmo acelerado, o dólar favorece as vendas externas e a entressafra reduz a oferta de animais de pasto. Por outro lado, o consumo interno travado, a acomodação dos preços no atacado e a resistência dos frigoríficos em elevar a arroba criam um impasse.
Com escalas ainda curtas e produtores segurando os lotes, o mercado pode reagir com mais força nas próximas semanas. Mas, até lá, o cenário é de cautela. O boi está no caminho da alta — mas a estrada tem bifurcações importantes.