A disparada nos preços do boi gordo deixou os frigoríficos em alerta e animou os pecuaristas: a arroba já ultrapassa R$ 325 em importantes praças pecuárias, como São Paulo, e a tendência é de mais valorização nos próximos dias. A explicação para esse movimento está na combinação de oferta enxuta, exportações em ritmo forte — principalmente para a China — e melhora das pastagens com as chuvas de junho.

Segundo especialistas, o cenário atual é típico de entressafra, mas com agravantes que elevam a pressão de compra das indústrias, gerando oportunidades para o produtor que segurou seus lotes.

Pastagens verdes e escalas curtas dão poder ao produtor

A oferta de animais terminados caiu nas últimas semanas, impulsionada pelas boas chuvas que atingiram o Centro-Norte do país no início de junho. Com pastagens recuperadas, o pecuarista conseguiu reter o gado no pasto e esperar por melhores preços, o que encurtou as escalas de abate nos frigoríficos.

“A oferta de animais apresenta diminuição após as boas chuvas, e as exportações permanecem em ótimo nível no decorrer do ano. Esse é o grande fator de sustentação da demanda”, explica Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado.

Hoje, as escalas de abate seguem curtas — entre cinco e sete dias úteis na média nacional, o que pressiona as indústrias a oferecer preços acima das referências.

Exportações aquecidas puxam valorização do “boi-China”

Outro motor da alta é a exportação. O Brasil deve alcançar novo recorde nas vendas externas de carne bovina em 2025, com destaque para o volume embarcado à China. A procura por bovinos jovens com padrão de exportação, o chamado “boi-China”, está forte e sustenta cotações firmes.

Segundo a Scot Consultoria, o mercado paulista mostra a seguinte configuração:

• Boi comum: R$ 315/@
• Boi-China: R$ 325/@
• Vaca gorda: R$ 287/@
• Novilha: R$ 300/@

Já os valores médios da arroba nas principais praças do país estão assim:

• São Paulo: R$ 322,25
• Mato Grosso do Sul: R$ 318,64
• Mato Grosso: R$ 316,96
• Minas Gerais: R$ 311,76
• Goiás: R$ 304,29

Mesmo com recorde de abate de fêmeas no primeiro trimestre, a demanda externa conseguiu absorver a produção sem provocar pressão negativa sobre os preços. Analistas afirmam que o mercado se sustenta também pela valorização do dólar frente ao real, que melhora a margem das exportadoras.

Atacado estável, mas consumo pode reagir

No mercado atacadista, os preços encerraram a semana estáveis, com menor propensão a novos reajustes. Isso é comum na segunda quinzena do mês, período de menor apelo ao consumo interno.

Os preços da carne bovina permanecem nos seguintes patamares:

• Quarto traseiro: R$ 24,50/kg
• Quarto dianteiro: R$ 19,50/kg
• Ponta de agulha: R$ 18,50/kg

Ainda assim, especialistas veem espaço para reação nas próximas semanas, com a chegada do inverno e aumento da demanda por cortes de cozimento, como acém, músculo e paleta.

E agora? O que o pecuarista pode esperar do preço do boi gordo

Com exportações aquecidas, oferta limitada e pastagens que ainda favorecem a retenção de animais, o mercado segue promissor para o pecuarista no curto prazo. A expectativa é de manutenção das altas, especialmente se a China continuar atuando fortemente nas compras.

“Um horizonte promissor se desenha se esse ‘negócio da China’ persistir nos próximos meses”, destaca Felipe Fabbri, da Scot Consultoria.

No entanto, há pontos de atenção no radar: a chegada do inverno pode acelerar a saída de boiadas em algumas regiões e mudar o equilíbrio entre oferta e demanda. Além disso, a indústria pode mudar de estratégia após a primeira quinzena de junho, buscando conter a valorização do mercado do boi gordo.