No Brasil, onde 99% das empresas são de pequeno e médio porte e respondem por mais da metade dos empregos formais, o acesso ao crédito ainda é um dos maiores desafios para os negócios. O problema não é novo, mas se mantém como uma barreira invisível que sufoca oportunidades, limita investimentos e reduz o potencial de crescimento. Segundo dados do SEBRAE, existem 6,4 milhões de estabelecimentos no país, desse total, mais de 6 milhões são pequenas e médias empresas. Mas, na prática, grande parte dessas empresas esbarra em um mercado financeiro estruturado para atender gigantes, não pequenos empreendedores.
Quem comenta o assunto é o especialista Gabriel César, CEO da M3 Lending, fintech que facilita o acesso ao crédito para empresas. Ele aponta algumas das principais dificuldades enfrentadas pelas PMEs, como a burocracia, as exigências rigorosas e a falta de histórico de crédito, barreiras que limitam o crescimento dessas empresas. Mas não se preocupe, há alternativas para superá-las. Confira:
1 – Exigência de garantias
A exigência de garantias é um dos maiores desafios enfrentados pelas PMEs na busca por crédito. A maioria dessas empresas não dispõe de bens ou ativos suficientes para oferecer aos bancos, o que restringe suas opções de financiamento e torna o crédito inacessível para negócios, principalmente aqueles em fase de consolidação. Esse cenário limita o crescimento das empresas, uma vez que, sem o acesso a crédito adequado, elas enfrentam dificuldades para investir em expansão, modernização ou melhorar sua competitividade. Além disso, como as PMEs são consideradas mais arriscadas devido à sua natureza e porte, as instituições financeiras tendem a exigir garantias mais robustas, como imóveis ou equipamentos de valor elevado, o que muitas vezes não está ao alcance dessas empresas. Isso faz com que muitos empreendedores fiquem fora do radar das linhas de crédito tradicionais.
2 – Histórico de crédito
Outro grande desafio enfrentado pelas PMEs é a ausência de um histórico de crédito, fator que dificulta o acesso a financiamentos. Para construir uma boa reputação financeira, as empresas precisam obter crédito, mas, sem um histórico prévio, os bancos frequentemente recusam empréstimos. Esse ciclo vicioso impede o crescimento dos pequenos negócios, limitando suas oportunidades de expansão e investimento. Além disso, muitos empreendedores enfrentam dificuldades para comprovar sua capacidade de gestão financeira e de gerar lucro, fatores importantes para a obtenção de crédito. Assim, as alternativas, como o crédito pessoal, muitas vezes são mais caras e não são ideais para sustentar o crescimento de longo prazo da empresa.
3 – Desorganização financeira
A desorganização financeira também é um gargalo quando o assunto é a busca por crédito. A carência de informações precisas e bem estruturadas dificulta a análise da saúde financeira da empresa pelos bancos. “Sem balanços organizados e documentação formalizada, muitos negócios sequer conseguem iniciar um pedido de crédito. A dificuldade em cumprir as exigências burocráticas não só atrasa o processo, mas também frustra empreendedores, que acabam perdendo tempo e oportunidades”, explica César. Portanto, a organização financeira não deve ser vista apenas como uma questão burocrática, mas como uma ferramenta estratégica para o sucesso da empresa. A adoção de boas práticas de gestão financeira, como a manutenção de registros contábeis rigorosos, o planejamento de fluxo de caixa e a organização das obrigações fiscais, é essencial para não só facilitar o acesso ao crédito, mas também para garantir a sustentabilidade e o crescimento do negócio a longo prazo.
4 – Escolha da linha errada
Além disso, escolher a linha de crédito errada pode se transformar em uma verdadeira armadilha. “Taxas de juros elevadas e prazos desalinhados com o fluxo de caixa frequentemente resultam em um desequilíbrio financeiro ainda mais grave para as PMEs”, alerta o CEO. Para aquelas que já enfrentam dificuldades, como dívidas pendentes e um histórico de inadimplência, o desafio se torna ainda maior. “Empresas com problemas financeiros são vistas como um risco elevado, e a resposta dos bancos costuma ser sempre a mesma: negativa”, acrescenta. Além disso, muitas instituições financeiras oferecem linhas de crédito que parecem vantajosas à primeira vista, mas que, ao longo do tempo, se revelam prejudiciais. A falta de uma análise mais detalhada do perfil financeiro da empresa pode resultar em condições de pagamento incompatíveis com a capacidade de geração de receita das PMEs. Essa falta de planejamento adequado pode, inclusive, levar à falência de negócios que, em outras circunstâncias, teriam capacidade de se reerguer.
Gabriel César é CEO da M3 Lending.