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Mulheres Huni Kuin fortalecem saberes ancestrais no Acre

16/06/20256 Mins Read
Mulheres Huni Kuin fortalecem saberes ancestrais no Acre
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Mulheres Huni Kuin inauguram Casa de Cultura para fortalecer saberes ancestrais em Jordão, no Acre. Foto: Nara Mattos/Ainbu Daya

Foi com grafismos, cantos tradicionais e sorrisos de orgulho que as mulheres indígenas Huni Kuin celebraram a inauguração da Casa de Cultura, Arte e Saberes Ancestrais Ainbu Daya, no município de Jordão, no interior do Acre. O espaço foi criado para preservar os saberes tradicionais, promover autonomia econômica e fortalecer os laços entre mulheres de diferentes aldeias por meio da arte, do ensino e da valorização cultural.

O projeto nasceu da mobilização das próprias mulheres indígenas e da atuação do Instituto Ainbu Daya, organização formada por mulheres dos três territórios Huni Kuin da região Alto Jordão, Baixo Jordão e Seringal Independência.

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“Esse é um projeto muito importante para que as mulheres possam estar unidas, trocando experiências, fortalecendo esse trabalho. As jovens aprendem e as mais velhas ensinam cestaria, tecelagem, tingimento natural, o cultivo do algodão. Tudo isso faz parte da nossa cultura”, explicou ao Grupo Rede Amazônica a vice-presidente do Instituto, Batani Huni Kuin, de 42 anos.

O nome do projeto, Ainbu Daya, significa ‘Mulher Luz’ em Hãtxa Kuin, refletindo a missão de iluminar caminhos de autonomia e preservação cultural por meio das mãos e saberes femininos.

Hashuani Huni Kuin é aprendiz, mas foi escolhida como artesã representante da comunidade porque também está ensinando. Foto: Nara Mattos/Ainbu Daya

“Pra muitas de nós, sair da aldeia é difícil. Só o transporte das artes já custa caro. Com esse projeto, a gente pode se encontrar e levar nossos trabalhos com mais dignidade. Isso dá coragem pra continuar”, complementou a liderança.

A iniciativa é patrocinada pelo Banco da Amazônia, com apoio do Programa Rouanet Norte, e tem parceria do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios, Ministério da Cultura e Governo Federal. A inauguração ocorreu no último dia 4 de junho e também contou com autoridades locais.

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A Casa foi alugada por um período inicial de seis meses, durante os quais funcionará como ateliê, espaço de encontros e sede das ações do Instituto Ainbu Daya. Durante esse tempo, 44 mestras artesãs, guardiãs dos saberes ancestrais do povo Huni Kuin, receberão bolsas mensais como forma de reconhecimento simbólico e incentivo à continuidade da produção artesanal e transmissão de conhecimentos para as novas gerações.

Reunir mulheres de 44 aldeias Huni Kuin, espalhadas por regiões entre os rios Tarauacá e Jordão, exige não apenas planejamento, mas também recursos. O projeto garante apoio logístico para que essas mulheres possam participar dos encontros, levando suas artes e suas histórias.

Além do apoio financeiro, o projeto prevê seis encontros, um por mês, cada um com foco em um tema como: empreendedorismo, mídias sociais, informática básica, desenvolvimento criativo e planejamento financeiro. Também haverá oficinas online voltadas para a formalização de artesãs, estratégias de venda, gestão e organização do processo produtivo.

“Queremos que elas aprendam não só a criar, mas também a planejar, precificar e vender suas artes com autonomia. O objetivo é que elas façam por elas mesmas, sem depender de intermediários”, explicou Priscilla Romão, uma das integrantes do projeto.

Entre as participantes está Hashuani Huni Kuin, de 21 anos, que desde os 12 acompanha sua mãe, uma mestra da comunidade, e aprendeu a arte da tecelagem, miçangaria e pintura. Atualmente, além de continuar produzindo, ela também ensina outras jovens da aldeia, incluindo sua própria filha de 8 anos.

“A gente faz arte pra usar, porque é a nossa cultura. Mas também para vender, pra que outras pessoas conheçam o nosso artesanato. Isso traz muita felicidade pra nós”, contou.

Casa foi alugada por seis meses e será sede para ações do Instituto Ainbu Daya no Jordão, interior do Acre. Foto: Nara Mattos/Ainbu Daya

Segundo Hashuani, a chegada do projeto representa um alívio. Antes, ela conta, era difícil vender os produtos. “A gente produzia bastante arte, mas só conseguia vender quando um gringo vinha na aldeia. A gente não sabe mexer no Instagram, nem como vender online. Agora, vamos aprender juntas. Vai dar certo”, comentou.

Entre linhas e grafismos, também se tecem futuros. Enquanto ensina outras jovens, Hashuani sonha que sua filha aprenda não só a arte tradicional, mas também possa estudar e transitar entre dois mundos: o dos saberes ancestrais e o da educação formal.

“Quero que ela aprenda a tecer, a fazer o tingimento natural, mas também que possa estudar, fazer faculdade. Aprender o ‘mundo nauá’ (não indígena), sem esquecer do nosso mundo, dos saberes Huni Kuin”, disse.

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O lançamento do projeto ocorre em um ano simbólico: em 2025, o grafismo Kene Kuĩ, arte tradicional dos Huni Kuin, foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Para o povo Huni Kuin, os grafismos não são apenas estética. São ensinamento, espiritualidade, identidade. “Cada peça produzida carrega a força de nossa história. A arte é uma energia, uma força, a beleza do povo Huni Kuin. É assim que a gente transmite a cultura”, afirma Hashuani.

Casa Ainbu Daya em Jordão, no interior do Acre. Foto: Divulgação/Instituto Ainbu Daya

O apoio financeiro concedido às mestras é descrito pelo projeto como uma forma de reparação histórica e reconhecimento do papel dessas mulheres como guardiãs da memória e do saber.

Mais do que arte, a Casa Ainbu Daya é símbolo de um movimento maior, que integra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O projeto articula ações de regeneração cultural e ambiental, reafirmando o protagonismo feminino indígena na preservação da Amazônia.

“Estamos falando de mulheres que produzem, vendem, lideram e ensinam. Elas são protagonistas. Isso é força, isso é futuro. Um futuro tecido pelas mãos das mulheres da floresta”, concluiu Romão.

Hashuani compartilha do mesmo sentimento. “A nossa arte é também um trabalho. É o que a gente tem pra viver e pra mostrar pro mundo quem a gente é. Quando as pessoas compram nossa arte, elas tão levando um pouco da nossa história junto”, frisou.

*Por Renato Menezes, da Rede Amazônica AC

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