Cafés amazônicos sequestram mais carbono do que emitem? Veja em pesquisa inédita da Embrapa
A região Norte do país deverá ser responsável por 12,3% da produção de café canephora do Brasil, de acordo com projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Majoritariamente, o principal estado produtor da região é Rondônia, na qual o café robusta é a espécie predominante. O que um estudo inédito da Empresa Brasileiras de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostrou é a capacidade de sequestro de carbono desse café nas áreas produtoras amazônicas.
Chamada de robusta amazônico, essa espécie vem passando por um processo de seleção nos últimos anos, que visa a aliar adaptabilidade ao local e produtividade. O resultado é um café que chega a produzir 70 sacas por hectare em alguns locais de Rondônia. Além disso, o estudo da Embrapa indicou que este café chega a estocar 2,3 vezes mais carbono do que emite no processo de produção.
O pesquisador da Embrapa Territorial, Carlos Ronquim, resumiu o resultado encontrado no estudo: “Uma planta de café estoca um pouco mais de 4 quilos de carbono”. Além disso, ele indica que esse resultado não mostra a estocagem no solo, ou seja, o número final pode ser ainda maior. “A gente está fazendo a comparação [do estoque de carbono no solo] entre a mata, que é o padrão, entre o pasto e o café. Estamos avaliando ainda. Eu acho que provavelmente no mês de junho agora a gente termine essa parte do carbono no solo”, projeta.
Nessa etapa da pesquisa, o comparativo foi feito em áreas produtoras da região das Matas do estado. Por lá, predomina a cafeicultura familiar. O cálculo levou em consideração as emissões devido ao uso de fertilizantes, especialmente, os nitrogenados que liberam gases do efeito estufa (GEE) nos processos de conversão. Segundo o pesquisador, eles são responsáveis por quase 80% das emissões na produção de café. Além disso, foram considerados outros emissores, como os combustíveis usados por máquinas agrícolas e a irrigação.
O saldo que o estudo demonstrou foi que na fase produção chega a emitir 2.991,5 quilos de carbono por hectare anualmente. Porém, o sequestro de carbono estocado na planta foi 6.874,8 quilos por hectare anuais. Isso representa um balanço de quase 4 toneladas de carbono por hectare retirados da atmosfera todos os anos.
Pegada de carbono
Outra métrica apresentada foi a de pegada de carbono. Basicamente, quer dizer o quanto foi emitido de carbono equivalente durante o processo de produção de um determinado produto. No caso do robusta amazônico, para cada um quilo de café verde foram emitidos 0,84 quilos de carbono equivalente.
A nível de comparação, outro estudo da Embrapa apontou que o café arábica nas principais regiões produtoras do Brasil emite entre 1,9 quilos e 4,6 quilos de carbono equivalente por quilo de café. A pegada do café colombiano é em média 6,5 quilos por quilo de café.
Ronquim destaca ainda que isso tem relação com a forma de produção. Com mais estratégias para reduzir os fertilizantes, principalmente, essa pegada tende a se tornar ainda mais favorável, já que esse é o principal vetor das emissões.
“Você pode aumentar a adubação orgânica para diminuir um pouco a adubação sintética, que emite mais. […] Outra coisa, é semear entre os pés de café várias plantas que absorvem nitrogênio. Quando fizer a roçada, esse nitrogênio vai para baixo da planta de café. […] Além disso, parcelar a adubação de nitrogênio. Por exemplo, em vez de você jogar um quilo de nitrogênio uma vez, se você jogar ele em cinco vezes, 200 gramas, o aproveitamento é muito melhor e a emissão é muito melhor”, comentou à reportagem.
Possibilidades: crédito rural e créditos de carbono
O estudo originou uma espécie de simulador. Essa ferramenta é basicamente uma planilha que faz o cálculo do quanto um produtor emite e sequestra de carbono. Basta ele inserir informações como horas de uso de máquinas, quantidade de adubos e calcário. Segundo Ronquim, isso deve auxiliar os produtores da região a buscarem linhas de crédito mais baratas devido às práticas sustentáveis.
“Se o produtor tem essa foto hoje do que ele está emitindo, pode ser que ano que vem ele volte com uma foto e que o banco consiga auditar, consiga avaliar que houve uma emissão menor, baseado em alguns trabalhos de sustentabilidade que ele fez na área. E aí sim, se esse produtor mostrar, comprovar que ele está indo para esse caminho sustentável, ele pode ter um financiamento a um juro menor”, explicou.
A ferramenta está sendo apresentada aos cafeicultores na feira Rondônia Rural Show Internacional, que vai de 26 a 31 de maio, em Ji-Paraná (RO). Os produtores de café que estiverem por lá poderão fazer a simulação. Segundo a Embrapa, está em estudo a forma como a calculadora será disponibilizada.
Outra vantagem que os produtores podem buscar são os créditos de carbono. Para o pesquisador, as empresas do mercado voluntário que estejam interessadas em projetos de sustentabilidade, podem encontrar essa alternativa nas produções de café robusta amazônico. Com isso, o produtor conseguiria começar a estruturar um projeto de crédito de carbono e, futuramente, oferecer esses créditos no mercado voluntário.